terça-feira, 9 de novembro de 2010

Monstro do meu coração

Não tenho medo do escuro, mas também não é coisa que me agrade. Desde pequenina que imagino monstros debaixo da minha cama e coisas que atravessam o meu quarto e eu gritava e chorava para não dormir naquele quarto escuro, sozinha. “Mamãããããããã!” e lá  vinha ela a correr sempre muito alvoroçada e acendia a luz. Ficava um bocadinho até eu adormecer, mas eu dava sempre conta de ela ir embora,  ela saía deixando a luz de presença (que guardo ainda hoje comigo) acesa. Ela dizia que quando eu crescesse tudo ia mudar, e realmente já estava habituada a aquele escuro. Até que me mudei e o meu escuro passou a ser outro. Tive que me habituar a outro escuro mas as coisas não ficaram muito melhores, antes pelo contrário. Acordo várias vezes a meia da noite a gritar: “Mãe, ajuda-me ele está aqui ! Por favor, não me mates ! Pára de me atormentar, pára” – parece mentira que eu diga isto e nem eu própria queria acreditar e digo mesmo com convicção. Sinceramente não sei muito bem quem ou o quê que me atormenta, mas sei que o faz e de que maneira. Imagino algo parecido á rapariga “monstro” de um dos piores filmes de terror, a esse mesmo monstro dou o nome de Barney, pois foi o nome com que ele me apareceu num vídeo que me traumatizou, é desse mesmo vídeo que vêm estes meus ataques. Tenho medo, muito medo de adormecer. Tenho medo até mesmo de fechar os olhos. Por vezes tenho medo de tirar a cabeça debaixo dos cobertores. E pior que isso não consigo dormir com a luz acesa, nem sem um monte de peluches em meu redor. Por vezes quando estou sozinha penso que esse monstro posso ser eu mesma e ainda não me ter apercebido. Mas quando aprofundo esse pensamento, vejo que não porque senão não me afectaria. Ou talvez até sim, porque isso pode ser um sinal de que qualquer coisa não está bem. Mas normalmente esses ataques só acontecem quando estou muito mal, por algum motivo. Quer isto dizer que o monstro afecta o meu interior, o meu coração. Com base nesta teoria consigo perceber muita coisa em relação a mim. Não, eu não tenho medo do escuro, tenho medo do monstro. “Isso não é ter medo do escuro? Mas que monstro?” Não é ter medo do escuro, o escuro é só a casa do monstro. O Monstro, é o monstro do vazio que habita dentro de mim. Cada vez se apega mais e não quer sair, e o coração tem de ser forte para aguentar com isto tudo. Sai monstro, sai.

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