quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Uma caixinha cheia de nada


Acolheste me de braços abertos. Eu, refugiei-me no teu coração. Tu, entranhaste-te no meu como um vagabundo em busca do desconhecido. Percorremos trilhos de mãos dadas, com sorrisos exuberantes e dizendo palavras curtas. Mostraste-me um mundo. Um mundo onde eu podia caminhar descalça e de olhos vendados, pois sabia que estavas sempre ali a segurar-me firmemente pela mão para não me perder e me sentir guardada. De olhos fechados, sabia que estavas ali, sempre. Sentia o teu cheiro intenso, sentia o teu doce toque e eu, prendia-me em ti agarrando-te o mais que podia com abraços apertados e olhares cruzados. Guardava-te numa pequena caixinha de loiça dentro de mim, uma caixinha frágil cheia de ti. Uma caixinha roubada por um “estranho”. Memórias marcantes, palavras sentidas, sorrisos inocentes, pensamentos incertos, um agir indiscreto, era tudo aquilo que completava o meu ser e fazia aquela pequena caixinha, funcionar. Era tudo isto ao qual eu chamava de amor.
Agora, encontrei os teus braços fechados e o teu coração selado. Tornaste-te um viajante frequente do meu. Percorro todos os caminhos de novo mas desta vez sozinha, com os olhos bem abertos, pés calçados, sorriso rasgado e o tão melodioso silêncio. Caminho pelo mundo com receio, não tenho o anjo que me segurava e me guardava, o anjo que me via sempre mesmo quando parecia desatento, o anjo que sabia o melhor e o pior de mim, o anjo a quem eu confiara a minha vida, o anjo que roubara o meu coração. Devolveste-me a caixinha de loiça, pensado fazer o mais certo, mas esta voltou partida, vazia, era algo cheio de nada. Fizeste apenas os meus olhos acabarem com a sede que neles perdurava. Fizeste com que a caixinha de loiça cheia de nada, fosse também arrastada pela maré e com que o meu pensamento fosse inundado por palavras duras, memórias resgatadas e saudades incontroláveis.
Sempre com um pé atrás, lutei(ámos) por algo. Eu disse e repeti, que o arrependimento vinha sempre mais tarde. Também disse que sempre perdoava e nunca esquecia. Talvez te tenhas aproveitado disso, talvez não. Agora, tenho a minha caixinha cheia de nada, á espera que o tempo recomponha aquilo que tu partiste. Mas mesmo quando ela estiver inteira, eu vou ter ainda mais receio de poder confiar em ti outra vez, mas sei que vou cair no mesmo erro, na mesma tentação. Eu sou assim, os erros (não) fazem de mim a pessoa que sou hoje.